terça-feira, 20 de julho de 2010

Professor é orientado para identificar esquizofrenia

      Unifesp treina profissionais para reconhecer alunos com sinais de doenças psiquiátricas
Programa foi inspirado em outras iniciativas de sucesso no exterior; 300 estudantes da zona sul de SP passam por avaliações médicas
      A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) criou um programa em que médicos e outros profissionais da saúde vão até as escolas ensinar os professores a identificar alunos com suspeita de doenças psiquiátricas graves, como a esquizofrenia. O foco são estudantes entre 11 e 18 anos de 40 escolas públicas de São Paulo.
      Depois de identificados, os alunos seguem para o Proesq (projeto de esquizofrenia da Unifesp) para confirmar o diagnóstico -que envolve entrevistas com os jovens e seus familiares e exames de neuroimagem. No momento, 300 estudantes da zona sul de São Paulo passam por avaliações.
      O programa foi inspirado em outras iniciativas de sucesso em países como EUA, Inglaterra e Alemanha. "A meta é a detecção precoce. Os professores podem ajudar muito na identificação de sinais sugestivos [da doença]. Às vezes, os adolescentes passam mais tempo com eles do que com seus pais", diz o psiquiatra Rodrigo Bressan, professor da Unifesp e coordenador do Proesq.
      Entre os sinais investigados nos alunos estão queda no rendimento escolar, relatos de perseguição ou de ouvir vozes, agressividade e quadros depressivos e de isolamento.
      Em geral, a esquizofrenia começa na adolescência ou no início da vida adulta -90% dos casos são diagnosticados entre 15 e 25 anos. Estima-se que 1,8 milhão de brasileiros (1% da população) tenham a doença.
      A esquizofrenia preocupa os médicos por várias razões, entre elas, a dificuldade do diagnóstico precoce, o estigma e a não adesão à terapia.
      Uma recente revisão de estudos feita pelo Instituto de Psiquiatria da USP mostrou que metade dos portadores de esquizofrenia não adere ao tratamento, o que aumenta em 88% as chances de recaída (surtos).
      "Cada surto significa perda de neurônios e declínio mais rápido do paciente. Quanto mais surtos, maior o comprometimento das funções psíquicas e dos danos cerebrais", diz o psiquiatra Hélio Elkis, coordenador do projeto de esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de SP.
Resistência aos remédios
      As recaídas também são causadas por refratariedade, quando o doente desenvolve resistência aos antipsicóticos convencionais -drogas que agem nos receptores neuronais de duas substâncias produzidas no cérebro, a dopamina e a serotonina. De 30% a 40% das pessoas com esquizofrenia podem apresentar o problema.
      Nesses casos, é preciso associar à terapia outras drogas antipsicóticas. Mas também há entraves. Uma pesquisa da Unifesp mostrou que 80% dos pacientes refratários às drogas convencionais, tratados em um Centro de Atenção Psicossocial de São Paulo, não eram reconhecidos como tal e muito menos tratados adequadamente.
      Segundo Bressan, os médicos tinham medo em medicá-los com a clozapina (antipsicótico usado em casos refratários e fornecido gratuitamente pelo governo do Estado). "O remédio tem como efeito colateral a granulocitose [queda dos glóbulos brancos do sangue]. Mas o risco é mínimo quando os doentes são acompanhados de forma adequada. Também falta treinamento para os profissionais da saúde."

Folha de São Paulo - Cláudia Collucci